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sábado, 30 de outubro de 2010

Sem gorjeta


Era terça-feira. Para Sofia Barni, dia de torta de cereja e um café bem forte na cafeteria do Phiil. Seu livro seria lançado na próxima semana e tanto trabalho estava lhe tirando o sono e a paciência. Existiam especulações sobre sua nova obra e a escritora não queria proximidade com a imprensa. Achava desnecessário tamanho burburinho e pensava:
 – Que eles esperem a publicação!
Sofia freqüentava o Café do Phill desde que se mudara para o bairro Columbia, isso há 5 anos. Era figura conhecida entre todos os funcionários e famosa por suas generosas gorjetas. O estabelecimento não gozava de nenhum requinte e  nem de doces com nomes importados, era simplesmente um local de onde Sofia contemplava seu jardim [a cafeteria era do outro lado da rua de sua casa].
Observadora, detentora de grandes olhos cor de mel, a escritora notou a presença de um novo rosto atrás do balcão de confeitos. De fato o garçom havia sido contratado no dia anterior e como afirmou Phill:
-- O rapaz parecia necessitado do emprego.
 O dono do café já tinha sua equipe completa, mas quis ajudar. Sofia era desconfiada. Algo lhe parecia familiar naquele rosto magrelo e pálido do novo garçom.
-- O que deseja? Perguntou o rapaz.
--O de sempre!
Sofia nem precisava fazer o pedido, todos ali sabiam suas preferências. Naquele dia murmurou insatisfeita ter que dizer o que queria.
--Ora, porque não me mandaram o antigo garçom. Pensava ela.
--Senhora, o seu pedido. Insistia
Ele a olhava de uma maneira não habitual. Parecia tentar ler sua mente, ou buscar no fundo de seus olhos alguma resposta. Ela só  não sabia para quê. Ou talvez, apenas admirasse mulheres ruivas.
Por fim falou:
--Torta de cereja e um café forte, sem açúcar.
O rapaz levava o pedido esboçando um leve sorriso. Dispôs sobre a mesa o prato branco com a torta e em um momento de distração derrubou o café na moça.
Instantaneamente a amargura do café transpareceu na expressão de Sofia. Ela levantou-se abruptamente e sem olhar para frete trombou com o abestado. A pancada foi tal que a ruiva ficou um bom bocado atordoada.
Com o incidente algo caiu no chão. Era um crachá. Nele dizia que Oliver Bartter [o garçom] era jornalista do The Week, jornal para o qual Sofia não quis dar uma entrevista. Desta vez ela saiu sem dar a gorjeta.

Um comentário:

  1. "Você sabe como jornalista é curioso" - Coronel Nascimento, Tropa de Elite 2.
    rsrsrs
    Muito bom o texto!
    =)

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